Kathryn Mayorga versus Cristiano Ronaldo - Uma recomendação que lhe faço.

Todos os santos e heróis têm pés de barro. Quando lhes conhecemos as “agruras” isso passa a fazer deles seres menores? Alguém disse e eu concordo, que as pessoas boas não se vêem pelos momentos heróicos mas por aquilo que fazem no dia-a-dia. Será que por este ato de sexo violento não consentido, segundo a vitima, e que CR7 assumiu passou a ser um anti cristo? Não o creio. Mas para isso tem que ser humilde o suficiente e ter a perceção de que tudo o que fez foi errado.  Deixar-se de negações e advogados que também vivem `à custa dele. Talvez não seja Kathryn Mayorga a maior e principal aproveitadora do dinheio de CR7
É assim a vida dos heróis e só por isso o são e poderão continuar a ser. 

Embora mandando uns bitaites aqui e ali, no facebook, descontruindo a extrema agressividade, falta de empatia da parte deles e delas para com a vítima sobre esta situação da Kathryn Mayorga versus Cristiano Ronaldo, ontem, perante a leitura de um comentário de uma pessoa que até reputava de inteligente (uma ex jornalista embora continue a trabalhar na área da comunicação) fiquei perplexa e o assunto não mais me largou:
"depois de ver o vídeo já não sei o que pensar" e por todos os comentários que foi tecendo para ela Kathryn Mayorga é uma prostituta de luxo e uma prostituta quando sobe a um quarto de hotel já sabe ao que vai. Na cabeça desta mulher, portanto uma mulher que seduz é logo à partida uma prostituta e uma prostituta é obrigada a fazer o que o cliente quiser. Ou seja, se o cliente for adepto de bondage, não o sendo ela, é obrigada a aceitar!

Com este comentário e argumentos fui ver o vídeo e só um pensamento me ocorreu: coitada de quem assim pensa pois nunca foi seduzido nem seduziu em ambiente de festa, de copos, de excessos. É o que ali vejo. Tirar outras ilações só de gente com problemas relacionais. Será que para além de modelo Kathryn Mayorga também era mulher de alterne e como tal sem quaisquer direitos sobre o seu corpo?

Que quando subiu ao quarto e se despiu no jacuzzi já sabia ao que ia. Ou seja, Kathryn Mayorga sabia que a hipótese de fazerem sexo era grande e estava disposta a isso, recebendo ou não dinheiro por esse ato, mas o que ela não sabia é que isso pressuponha sexo anal e pelo que relata “a seco”. É que pelo que li para além dos preliminares que poderiam relaxar essa zona erógena, para algumas mulheres, também foi uma penetração à força, sem qualquer lubrificação nem que fosse manteiga. 

Quero só relembrar que há anúncios de prostitutas que dizem o que fazem e o que recusam fazer. Não têm esse direito?

Vejamos então.
Em todas as espécies animais de uma forma mais ostensiva ou mais dissimulada. Numa pesquisa rápida foi, de facto, difícil encontrar danças de sedução em que o parceiro mais ativo seja a fêmea mas tal talvez possa resultar de também neste domínio os homens que estudam e nos mostram a vida selvagem ainda não o tenham valorizado pois como nos dizia Sir David Attenborough sobre a violência dos comportamentos de caça ou dos partos “sempre terem sido filmados mas não mostrados, até agora, porque culturalmente as pessoas não estavam preparadas” O mesmo raciocínio se aplicou ao comportamento sexual e, estou em crer, que já se encontrando bastante estudado a predominância do masculino sobre o feminino na arte da visualização da sedução com o tempo novas e cada vez mais investigações e visualizações virão a público

Com todo este intróito até parece que estou a defender CR7. Não não estou mas já lá vamos.

Todos conhecemos a história de vida de Cristiano Ronaldo. De menino pobre de um bairro pobre, numa ilha em que as pessoas são maioritariamente pobres. Subiu a pulso, teve quem acreditasse nele e teve um anjo da guarda que lhe permitiu ser o que hoje é: um rapaz solidário, amigo da família, ídolo para tanta criança e adolescente, que discute e berra mas também chora, um herói nacional por tudo isto mas também porque nos mostra a garra de que somos feitos. E nisto há uma coisa a que Cristiano Ronaldo não pode escapar: à sua condição histórica e social. Cristiano vive num pais e num tempo em que as mulheres extra família, não têm direitos. Não são mais do que meros depósitos de esperma e parideiras das crias para tudo o resto só estorvam. Cristiano Ronaldo não é diferente daquele trolha que diz a uma adolescente “esburacava-te toda” ou daquele universitário que canta numa praxe “Porque quando me venho/tu ficas calada/ faço-te um pirata [ejaculação num olho]/ e ficas sem ver nada/ É como um fétiche/ ver-te coxear/ pontapé na perna [é efetivamente dado um pontapé na perna da mulher]/ e o teu olho a pingar”

É a esta desvalorização do corpo da mulher que as mulheres e homens de bem têm que pôr um fim. Não só no nosso pais como em todo o mundo. Por algum lado há que começar e o movimento metoo teve esse grande mérito. Conterá dentro de si algumas idiossincrasias como o caso de Asia Argento (embora perspetive esta caso de uma forma diferente mas não é agora o foco desta reflexão)

Sobre o tempo passado e as indeminizações

Qualquer ser humano quando submetido a uma situação muito intensa de medo, que implique risco de vida, ou seja o uso do seu corpo, reage de várias formas e uma delas é devido a toda a carga de adrenalina ficar paralisada. Há animais que se fingem de mortos para não serem caçados. É um daqueles mecanismos que a natureza arranjou para defender as espécies. Há uma incapacidade para a ação se esta não tiver sido trabalhada como é o caso dos polícias, militares, seguranças e praticantes de algumas artes marciais em que as técnicas de autodefesa predominam. Por isso não é de estranhar que algumas das vítimas fiquem mentalmente baralhadas e tenham dificuldade em descrever com precisão o que lhes aconteceu. Isso num primeiro momento, aquele em que as perícias médico legais se tornam mais urgentes. Posteriormente e passado o processo de luto poderão descrever e falar sobre o assunto.

Num coito anal se não houver colaboração da vítima a penetração é impossível pois a musculatura do esfíncter anal tem essa capacidade. Tem necessariamente que haver a possibilidade de a permitir. Fará dessa condição biológica uma condição de aceitação do ato? Não. A vítima sente-se a lutar pela vida e o que ela mais deseja é sair dali, urgentemente, com vida. É uma questão de sobrevivência. Embora grite não várias vezes, na sua condição de serva tem que esperar que ele se despache do que quer fazer. Foi assim durante milhares de anos, as mulheres a calarem a sua dor, algumas quase diariamente. Lembro de duas amigas, uma delas professora universitária e casada com um político, que tinha que obrigatoriamente abrir as pernas todos os dias e ai dela que não o fizesse. Temeu algumas vezes pela vida. Já divorciada, há alguns anos, ainda não consegue falar do assunto sem chorar pelo que evita fazê-lo. Não quer acordar a dor.

Para Cristiano Ronaldo, para Tomás Taveira, Bill Cliton, Harvey Weinstein, Lotta Lotass e para a esmagadora maioria dos homens independentemente da sua condição cultural, social, financeira, profissional, politica, religiosa...  há historica e sociologicamente uma cultura de desrespeito pelo corpo da mulher mas sobretudo não há o sentimento de culpa. Por muito que possa chocar não há grandes diferenças com esta malta. É apenas mais sublimada por uma gravata, um carro, ou um cartão de crédito, uns títulos académicos, ou uma profissão… 

Lembro aqui o caso de uma querida amiga que foi abusada, desde criança, pelo pai sem nunca ter sido penetrada “finalmente quando adulta e muitos anos após sair de casa o confrontei ele desatou num choro sentido de partir o coração e pediu-me dezenas de vezes desculpa porque não sabia que isso me causava sofrimento”

- Mas pai, você nunca viu no meu olhar de sofrimento?

- Tu fechavas os olhos e eu pensava que gostavas.

- Não pai, era para você se despachar e eu me ver livre de si o mais rapidamente possível.

- Porque nunca me disseste nada?

- Porque você era meu pai e sempre me educou que devía obedecer-lhe e se não o fizesse que seria castigada.

Quem é Kathryn Mayorga perante Cristiano Ronaldo?

Quanto às indeminizações há toda uma cultura americana muito diferente da nossa. Para eles os acordos extrajudiciais são muito aplicados e embora saibam que não resolve o dano em si mas apenas o atenua por se considerar que a pessoa fica diminuída, incapacitada seja fisicamente seja emocionalmente. Também em nós existe a indeminização pecuniária, por exemplo em caso de acidente de trabalho que provoque incapacidade total ou parcial, morte. Para os casos de violação ou de violência doméstica tambémexiste mas não sei se alguma vez foi aplicada. 

A indinação das pessoas tem a ver com o facto de ela ter aceite este dinheiro e agora vir a publico passados 9 anos- Mesmo uma pessoa como Raquel Varela não consegue resistir a esta baixaria. O meu desprezo para ela.

Acredito que Kathryn Mayorga por questões culturais, por medo, chantageada, idade e mal suportada juridicamente assinou de cruz. O que me indigna é as pessoas destruírem-na porque o fez passados 9 anos tendo recebido o que recebeu e por ser a pessoa que é. Inclusivé já li em jornais que aquela dança de sedução foi planeada por ser a pessoa que é. Ou seja, foi planeado o assalto à carteira o CR quando aquilo que ele lhe deu são feijões num cartão de bingo. Diz-nos o DN: “A verdade é que o acordo acabou assinado, e em troca de 322 mil euros, Mayorga teria de destruir de forma permanente todas as provas em relação àquela noite, fazer uma lista de todas as pessoas a quem teria contado e nunca mais falar do que aconteceu naquele quarto de hotel.”

Comentam tomando partido e acusando-a de ser uma ladra.

Ora não foi Kathryn Mayorga que despoletou agora a situação “O caso só viria a público em 2017, a propósito dos chamados Football Leaks, nas páginas do Der Spiegel. Nessa altura não se sabia o nome da alegada vítima. Mas agora, o novo advogado da professora de Las Vegas decidiu apresentar queixa e dar uma entrevista ao jornal alemão. Ficou aí desvendada a sua identidade.”

A questão que se deve, agora colocar: porque é que a Spiegel via Football Leaks pegou em 2017 no caso?

Será, como insinuam alguns uma vingança do Real Madrid?

Mais uma vez o corpo de uma mulher, qual arma de guerra, é usado numa contenda.

Não há diferenças entre esta gente e esta, por exemplo

Só há uma saídapara o nosso herói poder continuar a sê-lo: pedir desculpas pagar o que for exigido e pedir perdão a todas as mulheres do mundo pois finalmente entendeu o quanto a sua atitude e de todos os homens como ele fazem sofrer as mulheres

Como diz o poema
"Reconhece a queda e não desanima
Levante sacode a poeira
 e dá a volta por cima"